segunda-feira, 18 de abril de 2011

Quão Besta sellers fui

A visão das capas sempre muito bem ilustradas, estrategicamente exposto perto de caixas de supermercado e bancas de revista, papel de boa qualidade e um encadernamento igualmente caprichado, sempre foram uma tentação para mim, é verdade. Mas, quando pensava na quantidade sempre crescente de leituras que preciso e quero realizar tais como os clássicos, autores canonizados, sem falar das leituras técnicas. Nesses momentos de tentação, meu DOPS censurava: esse Best seller de aparência e fama atraente fica pra depois, pra um dia, quem sabe. Para o feriado do dia de São Nunca, muito provavelmente.
Pude então me dar conta que a leitura de um livro se configurava entre os muitos itens desencadeadores e propulsores de meu furacão de neurose e inércia. Instituí em meu sistema interno auto-regulador e tirânico que se fosse ler que lesse algo realmente bom. Algo com um valor realmente artístico, inegavelmente literário, pouco acessível, como que por uma imposição minha a mim mesmo, aprisionado em uma cela perdida em meu DOI-CODI particular, onde a regra era que a busca pela literatura, não seria só um prazer, mas, também uma obrigação. Mas, um dia me perguntei o por quê.
Onde está escrito o que é literatura e o que não é? Ainda não consigo definir e ficar com um discurso emprestado simplesmente por ter o que fixar em determinações internas, por hora, não me parece algo que realmente constitua um pensamento e mais ainda, uma verdade que eu possa ferrar em minha colcha de retalhos de couro curtido. Agora o que me importa é o prazer, seja assistindo a um programa de auditório, seja assistindo a uma das pérolas de Makhmalbaf. Aliás, por falar em cinema, lembro de um exemplo que vem bem a calhar: Godard é tudo, não é? Pode ser, mas, eu ainda não enxerguei esse “tudo”. Não estou pronto pra ele. Hoje, o prazer que Coppola me causa, por exemplo, isso sim é tudo, o meu tudo, pelo menos uma parte dele. E é exatamente neste ponto que encontrei um grande valor, o do reconhecimento da verdadeira experiência estética como sendo aquela que realmente faz valer o significado deste conceito e não aquilo que antes era minha lei, a qual rezava que o que já foi canonizado é que será o melhor independentemente dos olhos e do coração que a “consome”.
Há alguns anos, comprei numa feira de livros um exemplar português de “O livro do desassossego”, de Pessoa. Naquele momento eu tentei me entender com ele, mas, o fascínio não aconteceu. A narrativa não explodiu à minha frente e adiei a leitura. Lembro que me senti muito frustrado e, devido ao meu próprio desassossego– ainda no curso de letras – resolvi conversar com um professor o qual me ensinou que precisamos dar chance ao livro e não largá-lo logo. Dessa lição, aprendi que muito mais que dar chance ao livro, precisamos dar chance à voz de nosso coração poder dizer se aquele livro é adequado ou não naquele momento.
Tal reflexão me veio quando, depois de ter assistido ao filme Marley e eu, com o qual Roberta e eu ficamos bastante emocionados, resolvi comprar um exemplar do livro por nove dinheiros em uma liquidação do submarino. O tempo para iniciar a leitura foi enorme, vários meses. Hesitante e sob a sugestão mais que valiosa de meu amor, resolvi então iniciar. Uma surpresa: me apaixonei.
Surpreendido, e ainda sob o efeito extasiante de uma boa leitura, resolvi tentar outro que coincidentemente também já havia assistido: O caçador de pipas. Outra paixão e uma descoberta: definitivamente, assim como DJs tem como objetivo mortal e pungente destruir músicas fazendo versões sintetizadas e horrendas, alguns filmes tem o cruel objetivo de estragar (sob o pretexto de adaptar) histórias e livros.
Dois livros, um lido em duas semanas, outro, em exatos sete dias. Duas delícias que estavam em minha estante mutante há algum tempo e eu nem havia me dado conta disso. Minha concepção sobre os Best-sellers mudou. Podem ser bons sim. Um aprendizado: arriscarei-me mais, sairei do óbvio das cantilenas fanáticas que criei. Lerei quando, em quanto tempo e o que eu quiser. Hoje me sinto subversivo ao meu próprio sistema. Burlando as leis e espero que seja o fim da morte da ditadura que me impus e do ditador que eu fui.

18/04/2011 12:43